Daniel Cardoso disse que pessoas trans deveriam orar para Deus curá-las ou pagar processo de redesignação de sexo com o próprio dinheiro. Prefeitura de Senador Canedo repudiou declarações.
Vereadores de Senador Canedo criticaram a criação do Ambulatório Regionalizado do Processo de Afirmação de Gênero, que vai dar atendimento multidisciplinar à população transexual e travesti na cidade e mais 24 municípios. Eles disseram durante a sessão na Câmara, na terça-feira (9) que são contra o gasto de dinheiro público para o programa que, entre outras atividades, auxilia no processo de redesignação de gênero.
Com a Bíblia nas mãos, o vereador Daniel Cardoso (PSC) disse que quem quer o atendimento especializado deve usar o próprio dinheiro.
“Por que não vai atrás de psicólogo para tratar essas pessoas, ir atrás de fazer terapia com essas pessoas? A terapia cura. Eu falo, eu faço terapia, a terapia cura, é bom [...]”.
“Se você nasceu homem, peça a Deus sabedoria para que tire isso de dentro de você e que te cure, te salve. E se não conseguir curar, faça uma poupança, vende um carro, uma casa, vai para São Paulo e paga do seu bolso”, disse.
Em nota, o vereador Daniel Cardoso reafirmou sua posição em defender que o atendimento na área de saúde deve ser prioridade e que há déficit em atendimentos básicos na cidade. Com isso, foi surpreendido “com o empenho em se estabelecer políticas públicas de saúde junto às minorias enquanto outras também minorias estão sofrendo em filas de espera em busca de cirurgias, tratamentos e procedimentos igualmente importantes para a sociedade”.
O ambulatório foi inaugurado no dia 29 de julho e promove um atendimento multidisciplinar. A cirurgia de redesignação de gênero é um dos passos oferecidos dentro do programa, que também inclui apoio psicológico, psiquiátrico, de assistência social, hormonioterapia, entre outros. O objetivo é promover a inclusão da comunidade trans, que muitas vezes é marginalizado no atendimento de saúde.
A Prefeitura de Senador Canedo disse que o ambulatório é um serviço de saúde pública e que a administração municipal atende a todos, independente de estigmas. “Repudiamos as falas deferidas pelo vereador e reafirmamos o nosso compromisso com a população”.
Em sua fala, o vereador disse que não é contra pessoas da comunidade LGBT+, mas que não concorda com a prática e com o uso de dinheiro publico para o atendimento no processo de redesignação de gênero, pois existem demandas mais urgentes.
“Se eles querem fazer a troca de sexo, porque não fazem com o dinheiro deles, porque tem que usar o dinheiro público para fazer isso? Não estou aqui para falar mal ou julgar pessoas que se acham no direito de nascer no sexo x e ir para y. Deus fez homem e mulher. Nós somos criados por Deus todo poderoso”, disse.
Os vereadores Eliel José (Podemos) e Celismar Lima (PROS) também se mostraram contra o projeto. O primeiro, também citando a Bíblia, disse que o dinheiro público não pode ser usado para “a ideologia de gênero” e que Deus criou homens e mulheres.
Já Celismar Lima defendeu que, como a homossexualidade não é considerada uma doença desde 1990 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), esse tipo de atendimento não deveria ser questão de saúde pública. Com isso, o processo deveria ser custeado por cada pessoa interessada.
Em nota, a defesa do vereador Eliel José disse que ele expôs o que defende e acredita, portanto, ele reitera a "discordância" quanto às ações tomadas pelo executivo municipal. Ele diz que o prefeito "despendeu recursos para uma área e deixou de priorizar uma área basilar no município que é a nossa maternidade, totalmente ausente". A nota diz ainda que o político tem "profundo respeito a todos os cidadãos, sem qualquer distinção de cor, religião ou orientação sexual".
Já o vereador Celismar Lima disse, em nota, que é contra a "acepção de pessoas". "Para mim, todos são iguais. Então, se torna tudo mais fácil a partir do momento em que todos são tratados com igualdade", afirmou.
A Câmara Municipal de Senador Canedo disse que responde pelas pautas e projetos que tramitam na casa. Discursos e opiniões devem ser respondidos por cada político.
Fonte: g1 Goiás.
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