terça-feira, 7 de novembro de 2023

ECONOMIA | INDÚSTRIA / Indústria química: nova redução na demanda interna compromete plantas do setor

 


Julho e agosto registraram resultados pouco satisfatórios na comparação com meses anteriores. A produção recuou 1,88%, após declínio de 6,11% em julho, aponta Abiquim. Retomada do Reiq é apontada como fundamental para dar mais competitividade ao setor

A produção da indústria química brasileira tem preocupado os representantes do setor. Os principais índices do segmento em julho e agosto não registraram resultados satisfatórios, na comparação com os meses anteriores. O recuo foi de 1,88% em agosto de 2023, após um declínio de 6,11% em julho. Os dados são do Relatório de Acompanhamento Conjuntural (RAC) da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

O presidente-executivo da Abiquim, André Passos Cordeiro, diz que a indústria química brasileira entrou em um estágio de atenção. “A capacidade ociosa na indústria química superou os 40%. Isso significa que 40% da capacidade produtiva da indústria não está sendo utilizada nesse momento. Os níveis de utilização de capacidade na indústria química adequados são acima de 80%. Portanto, a capacidade ociosa aceitável é cerca de 20%. Nós estamos no dobro da capacidade ociosa aceitável”, revela.

André Passos Cordeiro explica que esse cenário representa um quadro de risco de paralisação em sequência de plantas produtivas. “A indústria química é a indústria que tem a segunda maior massa salarial da indústria brasileira. Então quando nós começamos a entrar nesse ciclo de baixo uso da capacidade produtiva o primeiro impacto é em empregos e renda. Nossa preocupação é com o agravamento desse cenário”, desabafa.

Para o economista Aurélio Trancoso, esse cenário de pouco crescimento também pode ser explicado pela falta de incentivo no mercado interno. “Nós não investimos em tecnologia, nós compramos tecnologia. Então, quando se fala de tecnologia em cima dos produtos químicos que o Brasil hoje produz, a Europa, Estados Unidos, a própria Rússia praticamente, eles estão anos luz a nossa frente”, avalia.

De acordo com o relatório, as importações mantiveram trajetória em alta, enquanto o uso da capacidade instalada chegou a 59% em agosto, um número que deixa o setor em alerta por ser o menor nível da série. Já as vendas internas tiveram um acréscimo de 2,32% em julho e de 7,97% em agosto, ambas variações sobre os meses anteriores. No entanto, a alta recente não compensou as fortes quedas de vendas dos meses anteriores. 

Capacidade de competição

Na opinião do economista Carlos Eduardo, o Brasil está diante de um aumento discreto da demanda de produtos da indústria química porque vem sendo atendido pela importação. Segundo o especialista, isso ocorre, aparentemente, por falta de capacidade de competição da indústria química brasileira.

“Se é isso, a resposta da indústria seria capitalização das empresas de modo a reforçarem sua capacidade de competição. Mas isso exigiria investimento, que requer poupança, que é baixa e o governo atual dá a impressão de que enxerga a poupança como menos importante”, analisa.

Volta do Reiq

Em agosto, o governo federal regulamentou a volta do Regime Especial da Indústria Química – o Reiq. Conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o regime prevê isenção de PIS/Cofins na compra dos principais produtos usados na indústria petroquímica reduzindo a diferença de custos entre as empresas brasileiras e suas concorrentes internacionais.

Para a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), é necessário investir em políticas públicas capazes de promover maior competitividade da produção brasileira frente ao mercado externo para a retomada da indústria química, como explica o presidente-executivo da entidade, André Passos Cordeiro.

“Está acontecendo uma competição injusta promovida pela competição predatória de outros países no mundo, especialmente da região onde acontece a guerra da Rússia com a Ucrânia, que afetou o preço das matérias-primas no mundo. Regiões como Estados Unidos e Europa adotaram medidas para se proteger desse cenário. Os Estados Unidos, por exemplo, levou suas tarifas para 27,5%. Também promoveram massiva aplicação de recursos públicos para estimular a sua indústria, aumentar a competitividade e enfrentar esse cenário”, relata.

Para o deputado federal Afonso Motta (PDT-RS), presidente da Frente Parlamentar da Química, o regime especial da indústria é importante para diminuir essa disparidade de custos entre a indústria local e a internacional.

“Isso só terá solução quando no futuro tivermos um grande plano, uma grande regulação, portanto, é fundamental nesse momento. A indústria química brasileira gera emprego de melhor qualificação, gera mais rendimentos, no produto interno bruto brasileiro, garante mais de R$ 5 bilhões de arrecadação, só R$ 2 bilhões em impostos. Então, tem um significado muito importante para todos nós”, destaca. 

O Relatório de Acompanhamento Conjuntural (RAC) da Abiquim revela que o volume de importações teve recuo de 8,8% em agosto, após uma forte elevação de 31,1% em julho de 2023, na comparação mensal. Com relação ao nível de utilização da capacidade instalada, o resultado ficou no mais baixo patamar da história dos indicadores da Abiquim, com uso de apenas 59% em agosto de 2023, após ter registrado 62% em julho. Esse índice recuou nove pontos em relação a agosto do ano passado (68%). 

Indústria química nacional perde competitividade com subsídios externos, diz Abiquim



Fonte: Brasil 61

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